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sexta-feira, 11 de março de 2011

Arcos de Muitas Íris - Uma grande paixão - Um péssimo começo

Todas a sextas-feiras eu ia até lá. Algumas semanas eu ia também aos sábados. Aos domingos só se fosse para o almoço. Afinal, a segunda-feira está sempre coladinha com o domingo, e não é permitido ser feliz aos domingos a partir da seis horas da tarde. Não me conformava, que o tempo estava passando e até aquela data não havia acontecido ninguém em minha vida. Eu frequentava o local com aquela rapaziada que chamava de amigos mas, que, no fundo,  nem sabia o sobrenome. Às vezes, não sabia nem o próprio nome, chamando-os só pelo apelido. Todos sempre muito felizes, contando os feitos da semana ou as mentiras permitidas da época. Eu encarava todo mundo olho a olho tentando identificar minha princesa encantada.  Gente entrava e saía e nada acontecia. Passou um bom tempo assim. Quando eu me preparava para sair, tinha certeza que seria naquele dia que minha vida ia se transformar. Passavam as horas, comia-se pizza, esticava a noite para uma boate próxima, e nada acontecia. Tentei adotar um estilo de roupa, tentando impressionar naquele lugar onde o blusão de couro preto e a calça jeans eram o máximo da moda. Eu tinha carro. Não era nenhuma sensação do momento, mas era um carro. Antes de estacioná-lo, sempre passava primeiro na porta do bar para que todos pudessem me ver.  Assim se alguém se interessasse por mim já ficava ciente que não voltaria a pé para casa. Eu considerava isso uma vantagem muito grande. Todos esses esforços foram em vão. Definitivamente ali não seria a minha escalada para o sucesso. Acredito que precisou quase um ano de investimento em pizza para acontecer o grande dia. Meus vinte anos estavam sedentos de amor e meu corpo não tinha ainda uma idéia bem definida sobre as maravilhas do prazer. Foi então que aconteceu o grande dia. Realizando a mesma encenação, que era própria do lugar, alguém passou de carro, bem devagarinho, olhando a todos os presentes que ruidosamente se instalavam  na varanda do bar. Meu coração deu um sobressalto. Depois, como se nada lhe interessasse, acelerou o carro e partiu. Meu coração voltou a bater normalmente. Conversei, contei piada, ri, quase que disfarçando, para que ninguém notasse a emoção rápida e frágil pela qual eu acabara de passar. Olho novamente para a porta do bar. O mesmo carro estava lá. O mesmo olhar encontrou o meu. O carro acelerou mais uma vez, e meu coração ficou assim, sem saber se voltava a bater normalmente ou se esperava mais um pouco. Tentei respirar. Procurei um assunto interessante para começar e que pudesse me fazer esquecer que estive tão próxima da tão esperada felicidade. Não consegui nada. Olhei para frente do bar e nada havia ali, a não ser as mesmas caras de sempre. Quem estava comigo tentou falar alguma coisa e eu não entendi nada. Meus ouvidos não escutavam, minha boca não conseguia pronunciar nada. Queria voltar para a casa, chorar no meu travesseiro, pedir colo, sei lá. Minha alma só perguntava: quando poderei vê-la novamente? Fez-se um escuro à minha volta, até o momento que fui acordada por alguém que me pedia para acender o seu cigarro. Indescritível a cena, mas ela estava lá, muito mais linda do que no carro. Era verdadeiramente bela. Belo era o seu sorriso. Suas mãos representavam todo o carinho do mundo que sempre sonhei para mim. Seu jeito de ser era novo. Sua maneira de falar encantadora. Minha cabeça girou, meu corpo rodopiou e minha alma se entregou. Seguiram-se muitas emoções. Eu acreditei, eu confiei, rasguei meu coração. Arrebentei valores. Sofri e não fui feliz. Bruna trazia dentro de si o mal da sedução. Seduzia a tudo e a todos que dela se aproximava. Seduziu minha família, meus amigos, os animais de estimação dos meus amigos, enfim, tudo. Eu passei a ser apenas o veículo que possibilitava suas conquistas.
Dessa emoção restou-me apenas o sentimento  de angústia em saber que eu ainda não havia me iniciado no mundo de ternura, que um dia me transformaria em uma verdadeira mulher. Sei da paixão, isto foi verdade. Assim como é verdade que tão logo a ferida foi curada eu estava lá, novamente na frente daquele bar, passando bem devagar com meu carro, para  avisar,  caso alguém se interessasse, que não voltaria a pé para casa.

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