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sexta-feira, 11 de março de 2011

Arcos de Muitas Íris - O grande encontro com a vida

Na sinagoga todos vão orar. Na sinagoga da Bela Vista, ou do bairro do Bexiga, todos vão para se localizar. Na década de 50, na década de 60, na década de 70, na década de 80, na década de 90, todos vão à sinagoga para se encontrar. E no novo milênio? Ainda há quem busque a sinagoga para pecar?
Foi lá que me diplomei para a vida. Era um templo com santos e anjos. Havia a calçada. Havia os sonhos. E todos sonhavam. Lá era o reduto, o esconderijo aberto, o gueto iluminado, o palácio das revelações. Havia os mestres e os aprendizes. Comia-se pizza e tomava cerveja. Mas o coração batia em pulsação recorde. Será hoje que minha princesa descerá de sua carruagem e se dirigirá a mim para dizer que finalmente chegou o dia. O dia da revelação. O dia da consumação dos prazeres sonhados.
Durante o dia apenas mais um restaurante. Muita família em grandes mesas, muitas conversas, muitas crianças em choro. Mas quando o sol começava a se despedir, imediatamente, em um passo de mágica, tudo se movia. Mas os garçons eram sempre os mesmos. Nossos protetores, nossos amigos, nossos companheiros, nosso simulacro.
Conheci muita gente por lá: Anas, Beths, Sandras, Marias, Fátimas, Joãos, Josés, malabaristas, artistas, anônimos, ricos, pobres, sargentos do Exército da Salvação... Onde estão todos? A peça em cartaz era sempre a mesma. Mesmo tema, mesmo autor, mesmos atores. Quem sabe agora são celebridades, banqueiros, bancários, professores, doutores, padres-missionários e mendigos. Ou estarão em alguma poeira cósmica só assistindo a juventude que rompeu as cadenas e se pulverizou em toda a parte. Os guetos agora são mais nobres. São requintados. Talvez não haja nem a necessidade de se caminhar até os guetos. É só bater e entrar. Entrar para a vida de quem da vida só espera. Conecta-se com fio ou sem fio. Encontra-se o mundo. Ele está as suas mãos. Basta toca-lo. Quero amar alguém do Cazaquistão ou do Arpoador é só teclar. É só acessar. É só amar.
Tudo mudou. Os códigos são outros, as baladas são outras, os sons são outros, a linguagem é outra. O mundo parece que gira em outro sentido.
Mas, a Sinagoga ainda está lá. Do mesmo jeito e com sua mesma beleza, na esquina da Martinho de Carvalho com a Rua Avanhandava. As preces continuam. Todos oram todos os dias. A sua frente ainda resiste o nosso templo do pecado. Com seus fantasmas, com os mesmos garçons zumbis e com os meus sonhos gravitando ainda por lá...

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