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sexta-feira, 11 de março de 2011

Arcos de muitas Íris - Todos vão à casa de Oswaldo

 Existe um templo em Brasília. Há muitos templos em Brasília. Esse, entretanto, tem uma crença diferente. Ninguém sabe precisar ao certo a data de inauguração. Mas, todos conhecem. Estudantes, burocratas das repartições públicas, comerciários, diplomatas, políticos e seus filhos, militares e seus filhos, aposentados, cabeleireiros, costureiros, mascarados, enfim todas as tribos que têm suas tendas armadas na aldeia do planalto central. Ninguém sabe também explicar ao certo porque aquele local é divino. Todos têm histórias para contar de lá. Alguns já foram muito felizes, outros não conseguiram realizar seus sonhos e muitos ainda esperam ser felizes. Para alguns é o inferno, para outros o templo é o paraíso esperado, a terra prometida. Para ir até lá todos se vestem. Maquiam-se com esmero. Cada costura da roupa é preparada cuidadosamente. Estando lá, todos se despem, atiram ao longe a máscara e surge a vida. Ali tudo nasce outra vez. Tudo ressurge do chão, brota como a flor e espalha perfume e beleza para todos os cantos. O cerimonial da dança é rico em coreografias e a leveza dos passos traduz as mais belas esculturas já criadas. São deusas, são atletas de maratonas, são virgens com suas vestes castas. O templo já foi ambientado de diversas formas. Jamais saberei descrever qualquer uma delas. Como se um óculos tridimensional fosse distribuído na entrada, cada qual vê o que quer ver. Um céu azul com um arco íris pintado. O inferno de Dante. Um campo com a mais bela relva para se rolar. Um campo de concentração. Um purgatório. Uma nuvem que desliza graça ao sopro divino. Tudo é festa, tudo é dor. Todos são cúmplices. Os rostos são belos. Os rostos são tristes.  À luz da realidade ninguém conhece o templo. Todos se espantam quando alguém diz que naquela galeria existe um lugar proibido. Quando lúcido, ninguém sabe dizer ao certo qual é o endereço do pecado. Mas, quando o relógio marca vinte e três horas da sexta-feira, todos abrem a porta do coração e mergulham no rastro da vida, propondo-se ser feliz. São gerações e gerações formadas naquela academia. São almas que rondam os corredores estreitos lendo o livro da eternidade. Muitos retornam lá para se lembrar da ciranda da paixão. Eu também já tive meu cartão de ponto pendurado na chapeleta da fábrica de fantoches. Foram anos de dedicação. Fui feliz, sofri, desiludi-me. Nunca mais voltei. Mas, sempre que passo por lá, meu coração bate mais forte, as lembranças voltam em segundos, todos os personagens desfilam em meu olhar. Rezo, oro, clamo aos céus e peço que todos, no fundo, continuem freqüentando a casa de Oswaldo e encontrem seus pares e mergulhem na mesma felicidade que eu vivo agora.

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